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domingo, maio 28, 2017

I DON'T FEEL AT HOME IN THIS WORLD ANYMORE, Macon Blair


Essa sensação forte de não pertencimento.
Respiro fundo.
Começa a chover fino. Não poderia ser mais óbvio.
Talvez eu me dê uma importância na tua área afetiva, que na real, no vamos ver, eu não tenha.
E isso é um problema meu, inteiramente meu. Eu sei.
Então eu prefiro fugir no final da canção, mesmo querendo ficar,
mesmo querendo te abraçar no final e comemorar o teu sucesso.
Mas eu não me sinto parte.
Eu fico achando que eu sou parte, mas eu não encontro feedback.
Eu nem fico procurando, mas estar ali, percebendo, participando,
faz com que eu me questione sobre essa persistência em estar.
E num balanço sádico, não há diferença, não faz diferença.
Entro no táxi (táxi é tão mais dramático).
Mentira, entro no uber depois de rodar o quarteirão duas vezes.
Eu preciso fazer algo com essa energia porque as palavras esmigalham essa sensação.
Trituram em palavras, em sílabas desconexas o que é inteiro.
Eu caminho pelo quarteirão e a chuva aperta.
Eu penso em fazer sinal para o táxi, mas eu não tenho dinheiro na carteira.
Peço o uber. E são quatro minutos parado, aguardando.
E o corpo pede movimento. Ele precisa fugir daqui. Sair daqui.
Mas eu aguardo os quatro minutos escorado por uma banca de jornal, segurando o choro.
Eu não esbarro mais em clichês. Eu sou o clichê.
Perceba que se eu me sinto sobrando, é porque, de fato, eu estou.
E eu não tenho mais idade para sobrar.
Eu tenho é que ir embora no final da canção.
Me despedir rapidamente, segurando os pensamentos por fios.
Disfarçando as intenções, desenhando um sorriso e uma desculpa qualquer.
Eu realmente não posso ficar, hoje o metrô fecha mais cedo, palavras soltas.
Sair suando e aliviado e descer as escadas desmontando essa fantasia louca de ser alguém que eu achava que eu era.
Eu não sou. Se olha no retrovisor do carro. E encara. Eu não sou.
Eu desço as escadas em fuga dos meus pensamentos. Em confronto íntimo. Maiúsculo.
Eu vou.
Mesmo sendo com você. Especialmente sendo com você.
Essa dor é antiga, ela é muito velha, muito, para ser reeditada, para me tirar lágrima entrando no uber, para deixar doer enquanto eu choro e te escrevo.
Não dá. Desculpa, mas não dá.
Eu não quero estragar nada em relação ao teu show. Porque é muito bonito.  Foi.
Mas eu estou de fora por me sentir alheio.
Por presenciar de forma constante – insistindo em querer me inserir – que assim é.
E que seja, então.

De maneira inesperada, eu acho que a gente quebra aqui.