ZACK AND MIRI MAKE A PORNO de Kevin Smith
O telefone insiste depois de seis ou sete tentativas. Eu estava relendo uma carta, estava dentro das palavras que um dia alguém resolveu me escrever e sendo esse um fato raro, quase isolado – alguém me escrever – percebi que a tarde livre havia passado. O tempo havia passado, como se escorresse inevitavelmente, pelos dedos. Um sopro breve. Ao redor, lençóis de algodão brancos, bem finos, um copo e uma garrafa, aquela caixa de bombom aberta que deixaram para mim na locadora e meu pai me entregou sem cartão e sem mistérios, a cama desarrumada, vestígios de uma noite de sono, uma manhã, quem sabe? As almofadas desorganizadas e toda a geografia de um espaço que eu conheço de olhos fechados, pernas atadas, em qualquer outro canto do mundo.
O telefone, mais uma vez, chama por mim e é quase um choque brando interromper as palavras íntimas de uma carta para, sem aviso, no repente, usá-las em um automático ‘alô’, um susto ao atravessar a rua, entre a folha de papel e o fone. Rasgo o silêncio e antes do óbvio da comunicação, ‘alô’, apenas alô, ouço o meu nome e o volume da voz do outro lado, o tom, a intenção, tudo isso se antecipa e me tira um sorriso. Eu conheço essa voz safada que sopra meu nome com uma propriedade e também intimidade que bastam três segundos para que me arrepie o corpo, a nuca, o secreto. A voz, o dono da voz, carrega muito mais que o efêmero efeito de me provocar a química ou arrepios. Carrega uma história de cumplicidade e silêncios e também de palavras e também de movimentos e também de encaixes e de inteligência e também de molecagem seguida de cavalheirismo e de tantos detalhes de toda uma história com início, meio, fim e os de vez em quando. Hoje é dia de de vez em quando, eu sei. Agora eu sei.
O teu apartamento mudou. Ganho um beijo molhado. Está mais branco. A língua quente dentro da boca quente. Vermelha. O que houve, ela não te suportou mais, deu no saco? O cabelo puxado levemente, nos aproximando, quase fogos de artifício. E teu gato fedido, que fim levou? O corpo em estado de tensão, intenções em riste, que o mundo termine. Penso muito em você, nada dramático, desencana, penso muito em querer saber de você. Desabotoa a minha camisa sem que eu perceba com a segurança de quem conhece bem o mapa. Essas afinidades que resistiram, sabe? Outro dia me deu vontade de saber para quem você estava torcendo no American Idol. Dois corpos prontos para ocupar o mesmo lugar no espaço. Vermelho, amarelo, verde e o trânsito nunca esteve tão livre. O macio do tapete, estamos cinematográficos, rapaz, mas tenha cuidado ou volto para casa com uma peça de roupa sua. Então as mãos na suavidade da pele e há o despertar de alguma coisa que eu não sei verbalizar. O melhor dos toques é o toque pretendido. Sim, papai, mamãe, titia e a criançada, menos o cachorro, o cachorro acabou, foi embora, já não acho que ele morreu, às vezes eu penso que ele ainda está em casa, abanando o rabo quando ouvir as chaves. Rasga o pacote e atira longe, mas o que houve com as preliminares tão clássicas, cenas tão aguardadas? Quer saber, meu jovem, que se foda o clássico. Solteiro pela cidade, feito um livro de auto-ajuda. Existe muito mais do que o movimento dentro do movimento de invadir e ser invadido por você. Informações secretas, íntimas, ultrajantes de como compartilhar a invasão sem que ela seja uma ilustração boba de como somos todos animais no cio.
Como é que eu explico você na minha vida?
Encaixe, eu poderia dizer. Hoje as palavras fogem, feito coelhos perseguidos. Não é canastra isso – coelhos perseguidos? E aquela voz interior, depois de um gordo e sonoro puta que o pariu: esqueça as palavras, vá ao cinema, vá caminhar, já que os coelhos fogem, as palavras desaparecem e o sentido, putz, o sentido não há, abra a lata de uma cerveja e faça festa com aquele barulhinho do gás escapando, do líquido na felicidade da saída da lata. O fim do encarceramento. Tschhhhhhhhhhhh.
Eu queria te dizer que existe mais, muito mais entre o caminho da minha cama para a tua do que o simples percurso. Uma espécie de trajetória de intimidade que avança os sinais, nos avacalha nos enaltecendo e vice-versa e acende a cidade na mais silenciosa das noites, do mais solitário dos dias.
O telefone, mais uma vez, chama por mim e é quase um choque brando interromper as palavras íntimas de uma carta para, sem aviso, no repente, usá-las em um automático ‘alô’, um susto ao atravessar a rua, entre a folha de papel e o fone. Rasgo o silêncio e antes do óbvio da comunicação, ‘alô’, apenas alô, ouço o meu nome e o volume da voz do outro lado, o tom, a intenção, tudo isso se antecipa e me tira um sorriso. Eu conheço essa voz safada que sopra meu nome com uma propriedade e também intimidade que bastam três segundos para que me arrepie o corpo, a nuca, o secreto. A voz, o dono da voz, carrega muito mais que o efêmero efeito de me provocar a química ou arrepios. Carrega uma história de cumplicidade e silêncios e também de palavras e também de movimentos e também de encaixes e de inteligência e também de molecagem seguida de cavalheirismo e de tantos detalhes de toda uma história com início, meio, fim e os de vez em quando. Hoje é dia de de vez em quando, eu sei. Agora eu sei.
O teu apartamento mudou. Ganho um beijo molhado. Está mais branco. A língua quente dentro da boca quente. Vermelha. O que houve, ela não te suportou mais, deu no saco? O cabelo puxado levemente, nos aproximando, quase fogos de artifício. E teu gato fedido, que fim levou? O corpo em estado de tensão, intenções em riste, que o mundo termine. Penso muito em você, nada dramático, desencana, penso muito em querer saber de você. Desabotoa a minha camisa sem que eu perceba com a segurança de quem conhece bem o mapa. Essas afinidades que resistiram, sabe? Outro dia me deu vontade de saber para quem você estava torcendo no American Idol. Dois corpos prontos para ocupar o mesmo lugar no espaço. Vermelho, amarelo, verde e o trânsito nunca esteve tão livre. O macio do tapete, estamos cinematográficos, rapaz, mas tenha cuidado ou volto para casa com uma peça de roupa sua. Então as mãos na suavidade da pele e há o despertar de alguma coisa que eu não sei verbalizar. O melhor dos toques é o toque pretendido. Sim, papai, mamãe, titia e a criançada, menos o cachorro, o cachorro acabou, foi embora, já não acho que ele morreu, às vezes eu penso que ele ainda está em casa, abanando o rabo quando ouvir as chaves. Rasga o pacote e atira longe, mas o que houve com as preliminares tão clássicas, cenas tão aguardadas? Quer saber, meu jovem, que se foda o clássico. Solteiro pela cidade, feito um livro de auto-ajuda. Existe muito mais do que o movimento dentro do movimento de invadir e ser invadido por você. Informações secretas, íntimas, ultrajantes de como compartilhar a invasão sem que ela seja uma ilustração boba de como somos todos animais no cio.
Como é que eu explico você na minha vida?
Encaixe, eu poderia dizer. Hoje as palavras fogem, feito coelhos perseguidos. Não é canastra isso – coelhos perseguidos? E aquela voz interior, depois de um gordo e sonoro puta que o pariu: esqueça as palavras, vá ao cinema, vá caminhar, já que os coelhos fogem, as palavras desaparecem e o sentido, putz, o sentido não há, abra a lata de uma cerveja e faça festa com aquele barulhinho do gás escapando, do líquido na felicidade da saída da lata. O fim do encarceramento. Tschhhhhhhhhhhh.
Eu queria te dizer que existe mais, muito mais entre o caminho da minha cama para a tua do que o simples percurso. Uma espécie de trajetória de intimidade que avança os sinais, nos avacalha nos enaltecendo e vice-versa e acende a cidade na mais silenciosa das noites, do mais solitário dos dias.