A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER de Philip Kaufman
Eu não quero agir como um adolescente medroso que emburra a cara para ganhar a atenção. Eu não quero esse jogo óbvio onde tudo é calculado para que você me perceba. Eu não tenho mais vontade de repetir. Eu não tenho mais idade para agir de forma descartável. Não vou fingir que não me importo com você. Eu me importo com você. Eu não sei equalizar o meu querer gigante e descontrolado no meu corpo e nos meus movimentos. Não sei ainda o que fazer com a delicadeza avassaladora que me entrega. Ela me desconcerta, me desequilibra, o coração acelera e é difícil conter o meu querer, é como se eu precisasse socializar os meus impulsos, adestrar um vulcão, compreende assim? Eu atravessei a rua segurando todo o choro, insistindo que respirando fundo e mentalizando que eu precisava esperar abrir a porta de casa para sim, desabar, perder o equilíbrio, chorar meu desconforto, assobiar os meus medos.
Existe algo de insustentável no nosso encontro. Eu falo por mim. E talvez tragicamente insustentável. Por mais encantado e por mais amigo que eu queira ser, eu não posso ser o amigo que você quer que eu seja porque existe o desejo. Te quero ao contrário porque eu não sabia que te receber resultaria no agora. Eu tropecei no querer que me revelou um gostar irreversível, mas que não está ao meu alcance. Por razões que só nos dizem respeito, saiba, sei. Do irreversível, eu não vejo alternativas objetivas para nós dois. Eu não quero agir de forma precipitada e também não posso mais deixar você entrar e ultrapassar o meu desejo de te desejar. Deve haver algum limite para ser respeitado, embora eu não saiba onde está. É tão difícil aplicar a teoria na prática, porque o sentir é desgovernado e venta, espatifa, quebra, move, revira e depois faz sentido.
É preciso que haja uma ruptura.
Não digo virar as costas e fingir que nada houve. Não digo mudar o comportamento e fingir que todas as afinidades e festejos e todo o carinho não existiu. Existem. Desgovernados. Não penso em caras feias ou palavras rudes. Não penso em não saber de você. Mas penso no silêncio. Na ausência de palavras e canções e cuidados. Penso em fechar as janelas e a porta. Em voltar para dentro e não permitir que você avance e leve as minhas palavras na areia. Penso em romper. Abortar. Chegar ao teatro e ir direto para o camarim sem querer saber se você chegou, se vai chegar, se vamos ter tempo para uma conversa. Me despedir sem a angustiante sensação de quando vou te ver. Se o meu telefone vai tocar. Se. Eu não quero o se. Eu não quero.
É preciso que haja um tempo para dizer adeus.
Adeus e seja feliz. Resolva a tua vida da forma mais linda. Plante tuas sementes em jardins reais, onde seja possível o cuidar. Onde seja possível o colher. Eu não posso ser seu amigo agora. Não posso. Eu não quero ser seu amigo agora. Seria estupidez da minha parte insistir. Seria como me ferir consciente da dor. Seria procurar razões para chorar feito um tonto que mal enxerga o teclado e sente um abismo e percebe que há insatisfação para onde quer que olhe.
Seria amar um homem que não vai me amar. Outra dor insustentável.
Adeus e me perdoe que eu te diga adeus. Guarde as palavras e as canções. Mas não posso ter você ao redor. Não posso ter a ilusão de um você que não existe. Eu guardo esse encontro como um precioso presente que eu preciso recusar. Você é. E está. E vou te deixar ir. Porque eu preciso que você vá para eu continuar sem essa sensação insustentável cada vez que me aproximo, que te ouço, que te vejo.
É preciso.
Eu lamento o fato de me despedir antes de qualquer possibilidade.
Existe algo de insustentável no nosso encontro. Eu falo por mim. E talvez tragicamente insustentável. Por mais encantado e por mais amigo que eu queira ser, eu não posso ser o amigo que você quer que eu seja porque existe o desejo. Te quero ao contrário porque eu não sabia que te receber resultaria no agora. Eu tropecei no querer que me revelou um gostar irreversível, mas que não está ao meu alcance. Por razões que só nos dizem respeito, saiba, sei. Do irreversível, eu não vejo alternativas objetivas para nós dois. Eu não quero agir de forma precipitada e também não posso mais deixar você entrar e ultrapassar o meu desejo de te desejar. Deve haver algum limite para ser respeitado, embora eu não saiba onde está. É tão difícil aplicar a teoria na prática, porque o sentir é desgovernado e venta, espatifa, quebra, move, revira e depois faz sentido.
É preciso que haja uma ruptura.
Não digo virar as costas e fingir que nada houve. Não digo mudar o comportamento e fingir que todas as afinidades e festejos e todo o carinho não existiu. Existem. Desgovernados. Não penso em caras feias ou palavras rudes. Não penso em não saber de você. Mas penso no silêncio. Na ausência de palavras e canções e cuidados. Penso em fechar as janelas e a porta. Em voltar para dentro e não permitir que você avance e leve as minhas palavras na areia. Penso em romper. Abortar. Chegar ao teatro e ir direto para o camarim sem querer saber se você chegou, se vai chegar, se vamos ter tempo para uma conversa. Me despedir sem a angustiante sensação de quando vou te ver. Se o meu telefone vai tocar. Se. Eu não quero o se. Eu não quero.
É preciso que haja um tempo para dizer adeus.
Adeus e seja feliz. Resolva a tua vida da forma mais linda. Plante tuas sementes em jardins reais, onde seja possível o cuidar. Onde seja possível o colher. Eu não posso ser seu amigo agora. Não posso. Eu não quero ser seu amigo agora. Seria estupidez da minha parte insistir. Seria como me ferir consciente da dor. Seria procurar razões para chorar feito um tonto que mal enxerga o teclado e sente um abismo e percebe que há insatisfação para onde quer que olhe.
Seria amar um homem que não vai me amar. Outra dor insustentável.
Adeus e me perdoe que eu te diga adeus. Guarde as palavras e as canções. Mas não posso ter você ao redor. Não posso ter a ilusão de um você que não existe. Eu guardo esse encontro como um precioso presente que eu preciso recusar. Você é. E está. E vou te deixar ir. Porque eu preciso que você vá para eu continuar sem essa sensação insustentável cada vez que me aproximo, que te ouço, que te vejo.
É preciso.
Eu lamento o fato de me despedir antes de qualquer possibilidade.