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segunda-feira, agosto 30, 2010



QUANDO ME APAIXONO de Helen Hunt


Querido,

Antes de começar, queria te dizer que tenho muito carinho por você.
É importante que você saiba disso.
Você sempre é muito carinhoso comigo e mais que isso,
você sempre é muito atencioso
e no meio de pessoas, muitas delas,
normalmente ocorre que elas não conseguem se ver,
se ouvir, se reconhecer.
Com você não.
Sempre que estivemos juntos, rapidamente em uma mesa de bar
ou por horas seguidas em conversa e festa,
você sempre me cobriu de atenção,
sempre me olhou nos olhos
e quis saber de mim.

Na noite que viramos naquela festa em Botafogo,
embora bêbados, você me disse frases muito fortes.
Que não me magoaram.
Mas me chamavam a atenção, como um delicado puxão de orelha
e reclamavam quase exigindo a minha presença.
Em um grupo que me amava. Me ama.
Da mesma forma que os amo.

Das coisas todas, eu queria que você soubesse
que em relação ao afastamento, ele foi - e é - consciente.
Aconteceu no decorrer de talvez um desgaste nas relações.
E foi a maneira mais eficaz que encontrei
de manter uma relação de amor com todas as pessoas.
De longe. Vez ou outra.

Você já amou tanto uma pessoa que a proximidade
só criou nós, mágoas e situações de ciúme quase constrangedoras?
Você já amou tanto uma pessoa que não se importou
quando ela se habituou a saber que você estaria ali,
independente da consequência da ventania?
Eu espero que não porque você é um cara que não merece ser magoado.

Então eu quis te escrver só pra dizer que estar distante
é só uma forma de me preservar
e de preservar o carinho que tenho por esse grupo de pessoas.
Mesmo.

Já engoli muito sapo. Já tentei e retentei opções de permanecer
e em todas elas, eu saí magoado. Machucado mesmo.
Sem drama besta de gente sem experiência e afim de birra.
Depois eu fui sentindo vontade de não estar.
De não aparecer.
Não permanecer.
Vontade natural. Que nasceu de dentro pra fora.
E eu respeitei. Eu, que sempre me passei por cima.
Que sempre larguei as panelas no fogo para socorrer qualquer um deles.

De longe, querido amigo, eu não vou embora.
Eu permaneço sem estar.
Até porque não me interessa partir.
São muitos e muitos anos juntos.
Mas o amor às vezes também pode ser uma falha na comunicação.

Obrigado pelo carinho. Pelo amor. Pela atenção cuidadosa.
Espero te ver sempre que aparecer.

Depois daquele nosso encontro na Lapa,
cheguei em casa bêbado feito um gambá e tentei diversas vezes te escrever,
Não consegui. Travei. Comecei a pensar que era melhor ficar em silêncio,
mas você não merece nenhum silêncio meu.
Depois eu sonhei com você, um ou dois dias depois, não sei.

Sonhei com você. O você de camisa listrada e calça jeans.
Foi um dos sonhos mais estranhos que já tive.
Porque no meio do sonho, eu caminhava em uma avenida movimentada
e fazia muito sol. Eu tive a sensação térmica do calor.
Mais tarde, quando despertei, estava suado.
Caminhando, eu via rostos. Vultos. Gente apressada
em busca de alguma coisa urgente
E cada um que passava por mim, me tomava alguma coisa.
Um objeto, a mochila, a camiseta, o tênis.
Então eu tive uma sensação - real - acredito
de desmaio. Eu tenho certeza de que se eu desmaiasse
durante o sonho, eu desmaiaria também dormindo.
Mas antes do apagão, antes da queda,
você me amorteceu.
Suas mãos. E caí no seu colo e você me pediu calma.
Me colocou no chão, com os braços envoltos ao meu corpo
e com seu toque, me acalmou o pânico.
Me fez retomar o ritmo da respiração.
Com toda a calma necessária.
Com uma doçura rara.
Delicado e inteiramente seguro da situação,
como normalmente só um bom homem sabe ser.

Em silêncio, nós ficamos durante algum tempo.
O que havia de comunicação entre nós dois
se dava pelos olhos.
Que eram mansos, cordiais, generosos.

Quando eu acordei no dia seguinte, acordei aconchegado.
E tive vontade de te soprar
o que o inconsciente fez comigo.

Obrigado por cuidar de mim, também nos meus sonhos.

um beijo

Jr

domingo, agosto 08, 2010


De volta, toda segunda-feira lá na Paradoxo, reformulada e lindona.